quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Fernão Capelo Gaivota


...Todas a Aves param ao olhar ele voar...
Passou como um raio pelo bando de gaivotas
deixando todos espantados com a rapidez que atingira...

Feliz e realizado com as suas descobertas
"quando souberem do triunfo pensava, ficarão loucos de alegria
como vale a pena agora viver! em vez da monótona labuta de procurar peixe unto dos barcos de pesca, temos uma razão para estar vivos!
Podemos subtrair-nos à ignorância
podemos encontrar-nos com criaturas excelentes, inteligentes e hábeis, podemos ser livres, podemos aprender a voar!
As gaivotas estavam reunidas em concelho quando ele Aterrou, e segundo parecia já estavam em reunião algum tempo, na realidade estavam à espera dele.
- Fernão Capelo Gaivota! É chamado ao centro! As palavras do mais velho foram pronunciadas num tom mais solene. Ser chamdo ao centro só podia significar grande vergonha ou grande honra. ser chamado ao centro por honra era a maneira como eram designados os principais chefes das gaivotas. "claro", pensou , "o bando da alimentação esta manhã viu o triunfo! Mas eu não quero honras. Não me interessa ser chefe, só quero partilhar o que descobri, mostrar a todos, esses horizontes que estão à nossa frente" Avançou um passo.
- Fernão Gaivota disse o mais velho - é chamado ao centro por vergonha aos olhos das Gaivotas, suas semelhantes!
Foi como se lhe batessem com uma tábua. Os joelhos enfraqueceram-lhe, as penas tombaram-lhe, um enorme rugido ensurdeceu-o.
"ser chamado ao centro por vergonha? Impossível! O triunfo! Eles não podem compreender! estão errados! Estão errados!"
-... Pela sua desastrada irresponsabilidade - Entoava a voz solene, - por violar a dignidade e tradição da família das gaivotas...
Ser chamado ao centro por vergonha significava ser banido da sociedade das gaivotas, desdenhando para uma vida solitária nos penhascos longuínquos.
- ... um dia Fernão Capelo Gaivota aprenderá que a irresponsabilidade não compensa. A vida é o desconhecido e o desconhecível, mas não podemos esquecer que estamos neste mundo para comer e para nos mantermos vivos tanto quanto pudermos...
Uma Gaivota nunca contesta o conselho do bando, mas a voz de Fernão ergueu-se gritando:
- Irresponsablidade? Meus irmãos! Quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida? Passamos mil anos lutando por cabeças de peixe, mas agora temos uma razão pra viver, para aprender, para descobrir, para sermos livres!
Dêem -me uma oportunidade, deixem-me mostrar o que descobri...
O bando mostrou-se impenetrável como pedra.
- Quebrou-se a irmandade - entoaram em conjunto todas as gaivotas e, em perfeito acordo taparam solenemente os ouvidos e viraram-lhe as costas.

Fernão Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho, mas vou muito além dos penhascos Longínquos. A Solidão não o entristecia. Entristecia-o que as outras gaivotas se tivessem recusado a acreditar na glória do vôo que as esperava. Recusaram-se a abrir os olhos e a ver...

Aprendia cada vez mais. Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava um peixe raro e saboroso que vivia a três metros da superfície do mar, já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro pra viver. Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento do largo, cobrindo cento e cinquenta quilômetros desde o ocaso até a aurora. Utilizando o mesmo controle interior , voou através de nevoeiros cerrados e subiu acima deles para céus estonteantes de claridade... enquanto qualquer outra gaivota ficava na terra conhecendo apenas neblina e chuvas. Aprendeu a dominar os altos ventos do continentes e a jantar ali os delicados insetos...
O que desejava para o bando tinha-o agora só pra si. Aprendera a voar, não lamentava o preço que pagara por isso. Fernão gaivota descobriu que o tédio, o medo e a ira sã as razões do porque a vida de uma gaivota é tão curta, e sem isso a perturbar-lhe a cabeça vivu de fato uma vida longa e feliz..."

(trecho do livro Fernão Capelo Gaivota, 1970)
Richard Bach
Fotografia de Russel Munson

Este livro é das coisas mais maravilhosas que já li e neste momento me identifico muito com este trecho do livro, pois é exatamente o que vivo agora, é exatamente como me sinto...
No entanto acredito que o futuro promissor de Fernão é o que me espera... E mais tarde como ele Voltarei ao bando, não a espera de glórias, mas para ensinar o que aprendi nesta nova maneia de viver...
A família é a origem do ser humano, sua referência e para aonde ele pode sempre voltar, mas pode ser também o câncer que que lhe mata por dentro, a doença que lhe degenera quando sua autenticidade se impõe a medíocre forma que maioria das pessoas vivem...

Cléber Otávio.

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