terça-feira, 9 de setembro de 2014

Música Negra que Transcende os Tempos

A Música culturalmente sempre esteve ligada a diversas manifestações culturais e em relação à arte como um todo.
Sabemos que a música assim como outras formas de linguagem contidas arte tem sua origem na África.
Na África antiga, e ainda hoje a música é usada em rituais religiosos que eram essencialmente femininos para invocar os orixás ou espíritos ancestrais.Temos também os jogos e lutas guerra como a Capoeira que eram essencialmente masculinas. Hoje alguns historiadores afirmam que a capoeira como ela é conhecida hoje foi desenvolvida aqui no Brasil, como estratégia de resistência a escravidão. Tanto os rituais como as lutas quase sempre em roda com instrumentos de percussão.
A música não só para os negros mas também para outras etnias sempre foi um meio não só de manifestação e expressão de sentimentos, mas também de preservação cultural.
Com exceção do Egito , não há muitos registros da cultura Africana, pois muitas coisas são passadas oralmente, o que por vezes dificulta o estudo da história africana antiga. Mas neste percurso acontecem fatos e fenômenos que provam que a cultura humana está sempre em movimento e sua essência não se perde em função dos costumes arraigados que criam uma força que faz com que as coisas se repitam de maneira diferente.
Mas afinal do que estou falando? Até o final do século XIX nossa sociedade brasileira e africana sofriam com a absurda estupidez que era a escravidão de negros e índios. Nesta perspectiva, os negros do Brasil buscavam sua liberdade através dos batuques através de reuninões secretas, no qual discutiam, faziam batuques/candomblés e através da capoeira desenvolviam estratégias de luta e libertação. Existe até uma lenda urbana que neste período os negros de diversas fazendas fugiam dos seus "senhores" na calada da noite para o Parque "Farroupilha" que se situa na capital do Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e lá se reuniam secretamente formando assim uma espécie de Quilombo. Os ritos religiosos a busca de liberdade e redenção originaram o nome que é mais usado para o parque até hoje. Parque da Redenção.

No início do século XX o que antes eram cânticos tristes da senzala, aos poucos foi ganhando a poesia de uma liberdade sofrida. Pois muitas famílias já antes separadas ao chegar no Brasil agora estavam "livres" mas sem terras e sem nenhuma estrutura digna de se viver. O que se reflete negativamente até hoje. Neste meio nasceu o Samba que por sua vez sempre teve o papel de falar das alegrias de viver, do amor e principalmente das adversidades da vida. O samba sempre foi e ainda é a voz do povo.
Depois no final da década de 50 início da década de 60 surgia a bossa nova que traz um pouco da ginga e sonoridade do samba e o refinamento do Jazz. A bossa nova seguiu o mesmo caminho do samba, mas de uma forma mais requintada e elaborada. Muitos bossanovistas foram exilados do Brasil nessa época por falarem nas suas músicas o que o opressor governo militar não permitia que se falasse.
Bem distante do Brasil também no final da década de 60 surgia o Hip-Hop, nos subúrbios negros e latinos de New York. O hip-hop começou na Jamaica em festas que eram conhecidas como "Sound System", eram festas que aconteciam nas ruas , com caminhões de som, algo parecido com os trios elétricos que se fazem hoje em dia na Bahia. Mas na Jamaica nos intervalos da apresentações de Reggae O Mc(mestre de Cerimônia) dava os recados relacionados as comunidades locais e também os recados amorosos. Faziam isso Rimando ao som do Reggae que no início ficava mais de fundo, depois alguns Mcs faziam isso rimando algumas frases, brincando com as palavras na batida da música. Desta "brincadeira" Surgia o "toast", que em suma eram essas rimas improvisadas tendo o reggae como base. Nesta altura já andava pelo mundo um menino chamado kool Herc, que com 12 anos apenas já era envolvido com djs. Ele imigrou com sua família da Jamaica para os Estados Unidos da América. Nesta época o que estava em alta nos EUA era o que muitos chamam ainda de soul de pista como era denominado pelos djs da época aqui no Brasil ou funk-soul no qual muitos artistas se consagraram, James Brow, Aretha Franklin, Etta James etc. Este som tem muito ritmo e James Brow com sua forma de dançar e cantar contagiava a todos. Foi um dos artistas que muito influenciou para o que hoje conhecemos como Breackdance elemento fundamental do Hip-hop.
Foi com esse contexto que Kool Herc se deparou nos subúrbios negros e latinos de New York. Levando esse estilo da Jamaica o que antes era conhecido como Toast que era improvisado a partir de batidas de reggae passaram a compor o que hoje conhecemos como RAP (Rhythm and Poetry)/ritmo e poesia. Enfim não vou me estender aqui sobre a história do hip-hop, mas a sua história tem importância pontual não apenas para etnia negra mas a contribuição histórica á musica e a arte como um todo. Sua formação veio da rua mesmo das festas, bem parecido com os ritos tribais de antigamente.
Em 1984 Afrika Bambbatta criou uma batida que é muito conhecida como Miami Bass, algo que o fez percussor do movimento hip -hop, essa batida foi base de muitos raps, bem como base de um estilo o Funk Melody ou Freestyle que muitos artistas se consagraram nos Estados unidos da América e no Brasil, artistas como: Stevie B. Noel, Trinere, Latino, MC Marcinho, etc. As letras falavam de amor e das adversidades da vida, suavizando a violência contundente que geralmente tinha o rap na época.
É claro que quando se tem uma ideia, ela vai em termos de música e arte em geral, ela pode crescer e se disseminar, não tem como ter controle sobre algo já criado, mas sinceramente, depois de tantas lutas e tanto sofrimento que tiveram os negros bem comas mulheres e outros grupos de diferentes recortes sociais, vemos um estilo que se alastra como uma infecção sanguínea, que é o Funk carioca, ou funk popozão que tem como base a mesma batida criada em 1984, agora o questionamento que aqui fica é: Há muito tempo atrás as tribos na África se desuniram, as maiores dominaram as menores e venderam seus irmãos de terra, algo que deu origem a uma era muito triste da humanidade... Agora depois de todos estes anos de luta feminista e de movimento negro, bem como de movimentos gays e tantos outros movimentos que procuram melhorar a consciência humana, dançar algo tão sexista, e que faz retroceder anos e mais anos de luta tem sentido????
Acordemos! Não é ser contra a nada que traga diversão, mas acho que é repetir o mesmo erro do passado, ignorar o passado, reafirmando o homem sobre a mulher ou vice-versa, Reafirmando dominantes sobre dominados, reafirmando um monte de coisas que praticamente desmontam a história da música e da humanidade em si...
O que vem salvando esse momento são alguns artistas que usam o Funk como meio de comunicação com o povo, com a mídia ou mesmo para se fazerem conhecidos, mas gravam coisas maiis coerentes com os dias de hoje, o Mc Marcinho, Mc Garden, Mc Gui e Mc Guimé São bons exemplos.

Enfim, no fundo penso que o que escreveu Bob Marley nos anos 60 ainda está bem certo na música War(Guerra)

"...Até que a filosofia que sustenta uma raça
Superior e outra inferior,
Seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada
Haverá guerra!
Até esse dia

O sonho de paz duradoura, da cidadania mundial e
As regras da moralidade internacional,
Permanecerão como ilusões fugares
Para serem perseguidas, mas nunca alcançadas
Agora haverá guerra, guerra..."
Bob Marley

Século 21? Desta forma vamos é acabar voltando ao Feudalismo!!!

Cléber Otávio

Nenhum comentário:

Postar um comentário